Varelúnias que não o são

Caro António não querendo, por agora, entrar nas questões que me parecem mais relevantes do livro da Raquel Varela, permite-me salientar duas coisas sobre a polémica instalada:

1. No texto não linkado pela Raquel Varela, José Ferreira nunca escreve aquilo pelo qual é citado: «teria havido uma revolução socialista em Portugal vitoriosa se não fosse travada pelo PCP». Por isso pareceu-me simpático dar uma ajuda;

2. José Ferreira critica a Raquel Varela por defender que “O PCP não quis fazer uma Revolução socialista em  Portugal porque isso implicava romper com os acordos de Ialta e Potsdam entre a Rússia e os EUA, que Cunhal, fiel à “pátria mãe do socialismo”, se sentiu obrigado respeitar“. Mas José Ferreira podia ir um pouco mais longe dizendo que a Raquel pensa que essa traição, palavras minhas, se deve ao facto do PCP querer estar integrado num Governo com o PS, para negociar lugares com os socialistas. O que não é bem a mesma coisa que a Raquel aqui escreve.

Quanto às observações jocosas de José Ferreira, que apenas conheço dos comentários que faz aqui no blogue, em torno de uma certa superioridade académica a que a Raquel Varela se arroga não creio que o problema seja da caricatura. Usar argumentos de superioridade como “Quem sabe de História” ou declarar-se como a “única pessoa que publicou um trabalho de investigação (…), em Portugal sobre a história do PCP na Revolução dos Cravos” e arrumar tudo o resto em “os outros são ou jornalísticos ou de memórias ou dizem respeito a sectores específicos”, parece-me merecedor de caricaturas bem mais agressivas. Mas prossigamos.

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31 Responses to Varelúnias que não o são

  1. António Paço says:

    Tiago, já estou à rasca para responder a todos os comentários que estão a ser feitos ao meu post (devia estar a fazer outras coisas), e como de facto tu te diriges é à Raquel, ela que te responda, se achar que deve fazê-lo. Mas «varelúnias» parece-me feio. Ela fez um livro assente na sua tese de doutoramento, bem investigado e argumentado. Foi validada (a tese) com a nota máxima. Merece respeito e que, quando a contestam, procurem fazê-lo com fundamento.

    • Tiago Mota Saraiva says:

      Não percebo: Cunhalúnias é fixe, Varelúnias é falta de respeito?

      • De says:

        Com o devido respeito:
        No alvo

        Sem o devido respeito (a Varela):
        A fúria saneadora de comentários.

        O 5 Dias está convertido nisto.
        Vidal chama a atenção para uma questão já apontada: a tese parte de um apriori. Algo que se reflete sistematicamente nos escritos de Varela.
        Mas nos escritos de Varela surgem outras “questões” que contribuem para reforçar tal ideia.Um exemplo paradigmático é este em que Varela fala sobre as greves :
        Os «fura-greves»
        Posted on Novembro 9, 2013

        Varela, que nada dissera sobre a greve da FP antes desta se iniciar, (embora tenha sido bastamente generosa noutros comentários) , publica de rajada dois textos sobre “a greve”.
        O supra-citado é uma autêntica vergonha, denunciadora dum modus operandi que não pode passar impune.
        E como tal entendi ,escrevi um comentário que obviamente não passou.O que me obrigou a postar um comentário com o mesmo conteúdo no espaço do Bruno Carvalho.
        “Pela estrada fora com Álvaro Cunhal
        Posted on Novembro 11, 2013 por Bruno Carvalho”
        (De diz:
        Novembro 12, 2013 às 12:44 am )

        O”rigor científico”Pois.

      • Antónimo says:

        Ui, a mimosa e sensível Doutora já não o publicava, ó Tiago. Qualquer desviozinho ao modelo Nem com uma flor…

      • Antónimo says:

        atão não se me publica?

    • C Vidal says:

      Nota máxima sem unanimidade, quer dizer por maioria. O assunto pode não interessar, mas se estou certo (e posso não estar) a partir de um dado do currículo da autora (cuja presunção a faria colocar “unanimidade” e lá não vi tal), o tema torna-se curioso, pois saber das razões de quem não votou nota máxima não é despiciendo.

      Outra coisa, talvez mais importante: fora do 5dias, tal tese não suscitou lá grandes debates. Pela razão apontada por José Ferreira: a tese parte de um a apriori, a tese não nasce da tese, seja: da investigação. O que quer dizer que a investigação está lá mas para pouco, pois a conclusão é-lhe anterior.

      Além disso a autora tem aproveitado o 5dias para sublinhar mais do que a tese e as suas linhas, tem sublinhado o seu carácter POLÉMICO. E isto também é importante (pela negativa).
      Em relação a estes dois últimos pontos, o primeiro que aponto (e António Paço também, a classificação), é quase irrelevante. Boa tarde e boa sorte.

  2. Luis J says:

    Fiz dois comentários no Cunhalunias ou lá como é que se escreve. Um foi aprovado, e outro não. Deixo este último para vossa publicação, e talvez consideração.
    .
    Sobre os tais primeiros 3 meses, e que Cunhal lutava por um capitalismo regulado, ou mais direitos para as pessoas, a minha opinião sobre isso deu a Raquel no inicio do 3 parágrafo quando fala da contra revolução chilena. Antes de Pinochet subir ao poder, houve mesmo greves que se não foram feitas pela CIA, foram por primos deles. Isso hoje está muito documentado.
    Penso que Cunhal e outros, sabedores de certeza da história do Chile em 1973, tiveram medo de uma contra revolução como aconteceu lá. (veja-se a proximidade de datas) Cunhal e outros não sabiam bem como estavam as Forças Armadas, e tiveram receio de uma contra revolução, o que iria regressar tudo ao passado, e talvez ainda pior. Para mim pior porque Pinochet foi bastante pior que Salazar e Caetano.
    Cunhal e sem dúvida outros, preferiram guardar as conquistas democráticas, o voto, o fim da ditadura, que arriscar tudo numa incerteza.
    Já agora, digo-lhe que não sou comunista quer acredite ou não, mas interesso-me muito pela democracia. Acho que o termo capitalismo regulado face a tudo isto, é um bocado chato.

  3. Tiago says:

    A questão central que deveria preocupar aqueles que consideram à esquerda do PCP, em conjunto obviamente com essa coisa chata de mobilizar de facto os trabalhadores para a luta (mas para isso há os conversadores do PCP para fazer), é encontrar respostas para a pergunta: porque razão não resistem ao tempo os chamados partidos ou movimentos de “extrema-esquerda”, porque não conseguem ganhar influência junto dos trabalhadores, porque se vão destruindo em sucessivas cisões até desaparecerem ou serem meras caricaturas de partidos sem qualquer representatividade?

    Será difícil responder a esta pergunta? À partida parece que sim, uma vez que os seus membros, em qualquer momento histórico, estão plenamente convencidos dos seus argumentos e atacam de forma feroz o revisionismo ou conservadorismo do PCP.

    Sim, a análise pode centrar-se em Portugal. É que ao longo dos 92 anos de vida do PCP, este já enfrentou ataques de, pelo menos para os meus conhecimentos, mais de uma dezena de partidos, movimentos que se auto-intitulavam à sua “esquerda”.

    Não sendo historiador, nem sociólogo, deixo aqui em breves linhas 3 razões:

    1. Característica fundamental de qualquer revolucionário: humildade ou não há capacidade de trabalhar em colectivo, respeitar opiniões diferentes da nossa, ou seja, a longo prazo, a cisão existe. O objectivo comum deixa de importar, para sobrevalorizar a diferença; A “esquerda” da esquerda, logo à partida não é humilde porque nunca consegue reconhecer no PCP nada de bom; Sendo filha da pequena burguesia, a “esquerda” da esquerda assume sempre o eu como factor principal, a Raquel Varela ao menos para isso, serve de exemplo;

    2. Característica fundamental de qualquer revolucionário: ponderação. Sim, pode parecer incrível, mas um revolucionário não pode tomar um passo maior que a perna. Todas as grandes revoluções não foram tomadas de impulso, foram estrategicamente pensadas, e nos momentos de maior dureza, houve calma para pensar, inverter os erros e seguir para a vitória. A pequena burguesia radicalizada precisa da revolução para ontem. Assim, os erros sucedem-se, e não existe direcção que ganhe prestígio, e a cisão acontece, porque as minhas ideias são melhores que as tuas;

    3. Característica fundamental de qualquer revolucionário: falar verdade. A “esquerda” da esquerda, cega de ódio porque vê no PCP uma capacidade de mobilização e influência que nunca terá, procura sempre desvalorizar o seu contributo para a luta. E acaba, invariavelmente por utilizar as mentiras usadas pelo capital para o tentar destruir. Não conseguem derrubar os seus próprios preconceitos pequeno-burgueses. A suposta faceta “estalinista” do PCP (seja lá o que isso for) é cópia integral do pensamento de direita. Alguém acredita que um revolucionário analise o PCP da mesma forma que o capital?

    Para finalizar, A LUTA CONTINUA sempre de bandeira vermelha na mão, foice e martelo, ao som da internacional. Sou comunista e digo-o a toda a gente… logo não preciso de dizer o meu partido que as pessoas do outro lado já sabem… não é o MAS, a IV Internacional, a Rubra, a Ruptura, o MRPP, nada disso, sabe lá a maior do povo o que é isso tudo… dizem PCP, PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS, de norte a sul do continente ou ilhas.

    Sabem porque é que tenho orgulho? Se eu dissesse ao meu patrão que deixara o PCP para uma tribo de extrema-esquerda, ela até se ri para mim, até me convidava para jantar. Mas não, o gajo sabe que eu COMUNISTA, e tem de levar comigo e com os meus camaradas e não recebo avenças para escrever livros de história, não me convidam para jantar, não recebo promoções ou prendinhas no natal.

    Mas resisto e luto até à vitória final, que verdade insofismável, está mais perto hoje, que ontem.

    • Nuno Cardoso da Silva says:

      Tiago, é comovente essa tua afirmação de fé. De fé, sim, porque é disso que se trata. E cada um tem a fé que quiser, desde que não chateie o resto do povo… Olha eu, por exemplo, sou do SPORTING!!!… Agora ri-te à vontade porque provavelmente até tens razão para isso…

      • Tiago says:

        Mais um crítica que é espelho das ideias que o capital procura implementar.
        Não se trata de fé, mas de analisar a realidade. Não havendo argumentos, toca a reproduzir as ideias dominantes, que não são obra do pensamento de esquerda… mas do capital.

        Obrigado pela contribuição para dar mais enfâse ao que procurava transmitir.

      • Nuno Cardoso da Silva says:

        E o que te leva a pensar que tu, comunista marxista-leninista do PCP, és melhor que um comunista marxista-leninista do MRPP, ou um trotskista da Rubra ou do MAS, ou um socialista libertário que não pertence a partido nenhum? É porque és mais inteligente ou culto do que eles, ou será apenas porque é nisso que “acreditas”?…

      • Tiago says:

        Eu não sou melhor que ninguém e por isso não digo que a discussão política sobre qualquer tema está reservada a académicos.

        Eu não sou melhor que ninguém e por isso não invento mentiras para atacar um partido comunista só porque quem me paga, me diz para fazê-lo.

        Eu constatei uma dura realidade : não há um único movimento que combateu o PCP pela “esquerda” que tenha um minímino, MINÍMO de influência nos trabalhadores. A suas certezas da revolução eram tantas… que nem conseguem manter o seu movimento ou partido vivo.

        Eu constatei um facto, tu atacas-me a falar em fé. O capital impõe, tu reproduzes.

        Mas o Renato Teixeira gostou da tua dica e já a reproduz em comentários. É pena é que cheira a mofo essa ideia e quem a espalhou? O capital… em que o marximo-leninismo é uma religião.

        A diferença por isso é clara e foi isso que disse (mas vocès náo lêm… pegam numa frase e atacam), MAS e RUBRA, deve haver mais por aí, qual dessas organizações, tem influência em alguma coisa? Qual delas em SEU nome chama à luta quem quer que seja? Qual destas forças é capaz de estar numa acção unitária, sem ter o seu cartaz, num pano, o nome do movimento?

        Não, enquanto aqui o religioso se levanta às 3, 4, 5 da manhã e antes de ir para o seu trabalho vai para a porta de fábricas entregar documentos e tentar falar com trabalhadores é o parvo, o reaccionário, o traidor. Mas o MAS, a RUBRA… são inteligente… na própria manifestação vai distribuir os seus documentos!

        Sabes porque é que eu não gosto de vocês… porque vocês procuram espezinhar quem trabalha para mudar. Vocês procuraram humilhar quem não está para brincar às revoluções. Vocês procuram esmagar todos aqueles que sem ter o vosso grande intelecto… têm a ousadia de pensar pela sua cabeça.

        Eu não tenho de concordar com tudo o que o PCP faz ou diz. Mas digo nos locais próprios, e se sentisse que a minha opinião não contava… ia-me embora no dia a seguir. NUNCA senti isso. NUNCA me disseram… cala-te que não percebes nada. NUNCA me disseram que não poderia discutir história por não ser historiador. NUNCA me humilharam como vocês aqui procuram fazer.

        E daí a minha afirmação de orgulho de pensar a um partido com 92 anos de história, que está do lado que eu quero que esteja, na LUTA.

        Já percebeste?

      • De says:

        Clap!Clap! Clap!
        Excelente

      • Nuno Cardoso da Silva says:

        Tens razão quanto à falta de influência da esquerda de que não gostas junto dos trabalhadores, sobretudo se considerares apenas os trabalhadores fabris. Mas talvez a esquerda se deva dirigir aos cidadãos – como tal -, na sua diversidade de problemas e situações, sabendo que a esmagadora maioria são trabalhadores e são explorados. Tu pareces pensar que é a quase extinta cintura industrial de Lisboa que vai fazer a revolução, e ignoras, por exemplo, os bancários que, se mobilizados, mais depressa viravam isto de pantanas do que os teus trabalhadores fabris. É claro que é menos romântico falar para bancários engravatados do que para operários com as unhas sujas, mas a luta contra o capitalismo não se faz com romantismos e memórias de Petrogrado…

  4. Gambino says:

    Lamento, mas a análise da Raquel é argumentativamente sólida e factualmente legítima.
    Não faria qualquer sentido que o PCP não avançasse para a Guerra Civil por medo de uma divisão do país. Este argumento nunca foi aplicado por nenhum Partido Comunista do mundo.
    O problema não era a intervenção da NATO, que provavelmente seria apenas para garantir o norte e as ilhas, mas sim a a mais que provável não interferência do Pacto de Varsóvia, que estava mais interessado em África, e só actuaria em Portugal se a tal fosse obrigado. A guerra civil portuguesa teria impacto imediato em Espanha, o que não teria qualquer interesse para a URSS ou os Estados Unidos, que tinham criado uma variante da teoria de equilíbrio de poder assente em áreas de influência e áreas disputadas. Como Portugal estava na área da NATO, o Pacto de Varsóvia fez o mesmo que os Estados Unidos na Primavera de Praga, na Sublevação Húngara e, mais tarde, na Greve Polaca: Nada!
    Cunhal fez o que lhe competia e que estava nos preceitos do próprio comunismo internacional: adoptou uma estratégia global e não colocou a URSS numa posição em que teria que ir contrariada para uma guerra incerta ou assistir imóvel ao colapso um regime comunista no sul.

    • Carlos Carapeto says:

      Caro Gambino, mediocre mas não tanto.

      É impossivel mais alguem ser capaz de escrever tanto disparate em tão pouco espaço.

      Antes de nos ter contemplado com esta chorrilhada de asneiras devia ter verificado um mapa. não digo do mundo, da Europa era o suficiente.

      Acha que se desendadea-se nessa altura uma guerra civil em Portugal haviam algumas hipoteses da esquerda sair vitoriosa? Pense qual seria a reação da Espanha.

      E a URSS ia interferir num conflito muito longe das suas fronteiras com pouco valor estrategico de consequencias impreviseis?

      Está a supor que os países da NATO ficavam de braços cruzados a fazer papel de espetadores?

      “Como Portugal estava na área da NATO, o Pacto de Varsóvia fez o mesmo que os Estados Unidos na Primavera de Praga, na Sublevação Húngara e, mais tarde, na Greve Polaca: Nada!”

      E o que foi que URSS pode fazer quando das intervenções militares dos EUA na América Latina? Tudo!
      Essa ladainha sabuja repetida até á exaustão das intervenções Soviéticas aqui e ali já cheiram mal que tresandam.
      Julga que as “sublevações” que se verificaram e deram origem a essas intervenções das tropas do Pacto de Varsóvia não tinham por detrás os países da NATO, o financiamento e a participação dos países capitalistas?

      Informe-se daquilo que sucedeu no Irão de Mossadeggh, junto às fronteiras da URSS?
      Seguindo o seu raciocinio as tropas do Pacto de Varsóvia tinham mais motivos para intervir nessa situação, e não o fizeram.

      Não se esqueça se o PCP nessa altura ( 25 N 1975) tivesse reagido ao golpe contra revolucionário, ainda hoje os comunistas viviam na clandestinidade.

      E era isso precisamente o que a Raquel Varela aspirava. Essa senhora não a perturba nada o que o PCP fez de mal nessa altura, incomoda-a e muito o que os comunistas fizeram bem, roi-a o ódio a Álvaro Cunhal por as decisões acertadas que foi capaz de tomar num contexto muito dificil e complicado.

      Sabe o que dizia Kenedy? “a forma mais barata e eficaz de combater os comunistas é financiar e apoiar a extrema esquerda”.

      • Gambino says:

        Não me parece que tenhas percebido minimamente o que eu disse.

        Para já, só para começo de conversa, a quantos quilómetros fica o Vietnam dos Estados Unidos? É mesmo ali ao lado!

        A teoria do equilíbrio é muito anterior ao marxismo. Aqueles que acusam o Estalinismo de revisionismo alegam precisamente a utilização das figuras clássicas da diplomacia era uma traição ao espírito internacionalista.
        Os Estados Unidos apoiaram as revoltas no Leste, mas nunca intervieram militarmente e o impacto do não apoio militar foi determinante para os conservadores e os militaristas americanos. A razão para esta não intervenção foi precisamente a teoria clássica do equilíbrio de poderes. Só por uma vez, houve uma interferência militar directa na área de influência da outra potência. Adivinha onde foi.

        A Espanha ia ser um problema sério por entrar de imediato em colapso. A Espanha nunca teria qualquer hipótese de vencer uma guerra em Portugal. Na altura, após 13 anos de Guerra Colonial, Portugal tinha um dos exércitos mais eficientes da Europa. Já em 1910 os Ingleses estavam convencidos que a Espanha não era capaz de invadir Portugal.

        A intervenção soviética ou americana não era vantajosa para nenhum dos lados, mas, mais importante ainda, era lesiva para os interesses do comunismo internacional. Cunhal fez o que tinha a fazer e, tendo em conta a lógica do movimento comunista internacional, até fez bem.

      • Carlos Carapeto says:

        Camarada.

        Continuas confundido, Portugal em 1974 estava preparado para combater a guerra de guerrilha mas não dispunha de meios nem de preparação para a guerra convencional.
        Toda a artilharia e cavalaria mecanizada era do tempo da II GG, a aviação um pouco melhor, portanto é puro engano pensar-se que se podia fazer frente a qualquer agressão estrangeira com este tipo de armamento obsoleto.

        Mesmo que se tentasse defender através da guerra de guerrilha as condições do terreno não eram favoraveis a isso,.
        Se o Norte montahoso ficava controlado por a contra revolução ia-se combater nos descampados do Alentejo?

        Camarada não sejas utópico.

        Agradecia que me esclarecesses num ponto que mencionaste e que me deixaou confuso.

        Criticas as intervenções das tropas do Pacto de Varsóvia nos países da sua esfera de influencia e depois enalteces Estaline? Gosto de discutir Estaline em todos os sentidos ( isto é: para o bem e para o mal)

        Os Americanos intervieram no Vietname com os mesmos objetivos que o fizerm noutras partes do mundo muito longe das suas fronteiras. Dominio estratégico, controle das riquezas naturais de outros países.
        Ao contrário da União Soviética, fez por razões estrategicas, mas nunca com o objetivo de saquear as riquezas de outros povos.

        E achas que os Soviéticos iam permitir que os Americanos interviessem militarmente na sua área de influencia? Outro tanto como os Americanos o permitiam.

        Concordo contigo camarada, Cunhal fez muito bem ter medido as consequencias se naquele momento tivesse decidido avançar para o confronto armado.

    • chukcha says:

      “Não faria qualquer sentido que o PCP não avançasse para a Guerra Civil por medo de uma divisão do país. Este argumento nunca foi aplicado por nenhum Partido Comunista do mundo.”
      Eu fiz um esforço, um grande esforço para não comentar, mas devido à elevada quantidade de comentários, de putativos, e certamente valorosos Ivan Chonkin, com certa e comprovada experiência castrense, vejo-me obrigado a uns reparos que não vinculam nada mais, do que a minha modesta opinião.

      Antes de mais, gostaria de apresentar as desculpas pelas minhas falhas teóricas, não tendo doutoramento nem sequer licenciatura em ciências sociais (nem sequer humanas ou artísticas, vejam lá),e sem ter lido um único volume dos 52 (alguns com duplos tomos ) das obras completas de Lenin nem sequer uma infinitésima parte das obras escolhidas de Marx e Engels condensadas em 3 tomos (e certo do vosso perdão, para já não falar de autores obrigatórios para a compreensão do socialismo pós-moderno contemporâneo, dos quais, admito aqui, nunca li nenhum – sou por assim dizer um bruto, um autêntico analfabruto).
      Retomando, nesta circunstância e admitindo as minhas falhas, acreditava eu, que o objectivo de uma Revolução Socialista era conduzir os trabalhadores para a libertação da exploração capitalista, e não conduzi-los para o matadouro! Pela leveza com que por aqui assisto, de autênticos revolucionários-militares a apelar (retrospectivamente, mas a apelar) à Guerra Cívil vejo que estava enganado! Afinal a dialética, a análise das condições objectivas e subjectivas é irrelevante! O que importa é a luta,em 2 ou 3 empresas, no momento, em Lisboa, e quaisquer outras condicionantes, todo o resto do país é, claramente irrelevante. Assim, desafio desde já, todos os “defensores da guerra cívil”(sim, eu escrevi isto, mas é favor reler os textos de alguns doutos comentadores), que presumo tenham as armas bem oleadas e bons contactos castrenses, na falta de uma revolução, mas num momento pré-revolucionário com gréves diárias, que avancem,e na impossibilidade de despoletar uma “Guerra Cívil” na próxima greve/plenário dos estivadores (não nem um bloqueio ao porto?!) , que criem um movimento de libertação revolucionário e terrorista, algures na Beira Alta, para iniciar a corromper e desgastar o sistema parlamentar burguês perante a incapacidade e a capitulação do PC/CGTP, para a transformação social!
      Eu, valoroso soldado, qual Chveik, sempre fiel ao Keiser, perdão à Revolução teixeiro-varelista, na medida em que as minhas artroses o permitam, seguirei, sem pejo algum, na retaguarda de tal valorosa vanguarda!

      • Kasky says:

        Declaro com obediência a minha concordância. Mas mais acrescento, e são estes que com tanta coragem parecem animados para uma guerra civil (ontem ou hoje) são em grande parte os mesmos que defenderam e defendem o fim do serviço militar obrigatório. A guerra civil para tal esquerda é uma troca de espirros com besnagas de água. São os mesmos em quem menos confio, se alguma vez tivermos que passar por isso serão os primeiros a fugir. Coragem? Viu-se, e assiste-se!

  5. José Luís Moreira dos Santos says:

    Sei que seria pedir o impossível, mas quando alguém for capaz de fazer um levantamento fidedigno que nos permitisse saber por onde andam os principais dirigentes e mais ativos militantes das forças políticas que se reclamavam, e alguns ainda se reclamam, da esquerda do PCP, tudo se esclareceria num instante, num rapidissimo instante.
    José Luis Moreira dos Santos

  6. Carlos Carapeto says:

    É pura ilusão tentar tratar esta questão com paninhos quentes, sabendo bem que aqueles que lançam estas atoardas o fazem com objetivos bem definidos. Como diz o povo “para grandes males grandes remédios”.

    Nem tão pouco é necessário fazer uma analise minuciosa aos genes ideológicos desses pseudo-??? para saber quem são os seus principais inimigos. Basta estar atento às posições politicas que costumam tomar e à linguagem que usam, verificamos facilmente que em pouco ou nada diferem daqueles que apregoam combater, o capitalismo claro.

    Veja-se de que lado se situaram essas pessoas que estão hoje a levantar esta maratona de falsidades e calunias contra A Cunhal, quando da agressão à Líbia, e à atual situação na Síria ? Apenas estes dois exemplos!

    Veja-se também contra quem disferem discursos verrinosos impregnados de ódio, calunias infundadas, distorção da história , caldeando factos com mentiras para dar mais sustentação às suas maquinações lucubres?

    A continuada perversão maliciosa que fazem sobre a história do Socialismo, em particular da União Soviética é sintomático para perceber sem equivocos de que lado se situam na luta de classes.

    E neste caso concretamente, confrontando aquilo que escreveram Montefior, Laurence Rees, N. Davies, Furret ou Yakovlev, podemos afirmar com todo o rigor que as opiniões de todos eles se confundem. Isto é; não encontramos quaisquer diferença entre aquilo que esses servidores zelosos do capitalismo “narraram” e o que Raquel Varela ou de Renato Teixeira escrevem. Comportam-se como peças da mesma engrenagem.

    Os seus alvos preferenciais são precisamente os mesmos.

    Muito embora a história já os tivesse desmentido, no entanto insistem com o mesmo tipo de discurso mesquinho, fazendo uso dos habituais instrumentos da propaganda burguesa.

    Então a Raquel furta-se ao diálogo como uma enguia se safa das mãos, quando é confrontada com a história da URSS.
    O Renato dissimulasse de trotskista para alvejar tudo que tenha parecenças com socialismo.

    Estas coisas ficavam melhor, partilhadas por todos , infelizmente os visados por “egoísmo” preferem guardar só para eles. Aliás; negam-se publicar quando lhes chega às mãos.
    Dito de uma maneira mais simples. Censuram.

  7. josé sequeira says:

    Meus caros.
    Não sou historiador mas vivi intensamente esses tempos.
    Não vou entrar no debate.
    Apenas deixo umas pequenas notas cronológicas.
    Logo a seguir ao 25 de Abril de 74, até à mesma data de 75 o PCP estava em igualdade ou até à frente dos outros partidos. Tinha um passado de luta contra a ditadura, uma grande “organização” como se dizia na altura, capacidade de ocupação da rua e controlo sobre uma fatia importante das chefias do MFA.
    A partir das eleições para a Constituinte o PCP levou uma espécie de “chapada” porque, apesar de tudo e mais alguma coisa, ficou em terceiro lugar. Caiu muito em termos de legitimidade democrática, perdeu lugares no governo mas manteve a organização e a capacidade de ocupação da rua. No entanto entricheirou-se nos locais onde tinha força e viu radicalizarem-se as facções do MFA.
    Pouco tempo antes do 25 de Novembro o PCP, além do completo bloqueio a nível institucional, já tinha perdido a maior parte das FFAA, que tinham recuado imenso a nível de milicianos e de gente jovem (havia pelotões constituídos quase exclusivamente por “xicos”, entre oficiais, sargentos e praças), tinha visto a ascenção de gente próxima do Otelo e do célebre Copcon, entalado no Alto do Duque (o documento do Copcon, resposta tímida ao documento dos 9), juntamente com Lanceiros 2, “tomado” pelo MRPP.
    Como uma desgraça nunca vem só aconteceu o quase impensável: A direita, juntamente com o PS (até com a liderança deste) conseguiu destronar o PCP da “rua”. A manifestação da Alameda é o toque a finados definitivo.
    Perante este quadro acusar-se o PCP de não ter querido a guerra civil é no mínimo ridículo. A guerra civil, se fosse “comprada” pelo PC significaria uma vergonha e a perda total da influência desse partido. Bastaria ao Jaime Neves, com meia dúzia de comandos e uns quantos reservistas (que estavam a postos) darem um sopro para, tal como na fábula, derrubarem o edifício da esquerda em menos tempo do que eu levei a escrever isto.
    Tenham juízo os “revolucionários” que nesse tempo ainda nem sequer eram nascidos. Fez muito bem o PCP. Analisou a situação, perdida a chefia da tropa, perdido o governo (Vasco Gonçalves já tinha saído) e perdida a maioria do povo, viu que não tinha qualquer hipótese e “rendeu-se” para não perder tudo. Basta atender a duas pequenas questões: o esforço do Melo Antunes e as suas declarações na noite de 25, demonstrou que o revanchismo de direita estava à espera que o PC mexesse um pintelho para lhe cair em cima. Mais tarde o próprio bochechas mandou executar a operação contra as FP25 por ter tido a dica de que um “Dias Lourenço” fazia parte do grupo. Fazia mas não era o dirigente do PC.

    Fico satisfeito por estar tudo mais calmo pelo 5Dias. A discussão é importante.
    Cumprimentos.

  8. Luis Moreira says:

    Quem esteve no centro do furacão não tem dúvidas. Cunhal não avançou porque sabia ( como todos sabiam) que perdia. Preferiu ganhar em Angola e, para isso, levou a revolução no “continente” até ao limite. O PCP nunca teve influência decisiva na “tropa” e sem isso nada a fazer. A Raquel sabe pouco. Não viveu os acontecimentos e para fazer história capaz e séria é muito cedo.

    • josé sequeira says:

      Luís
      Concordo consigo mas não acho que a Raquel saiba pouco nem que seja cedo de mais para analisar esses tempos: Já lá vão quase 40 anos. O problema da Raquel é comparável aos comentadores do futebol que, em muitos casos nunca jogaram e não jogaram o jogo concreto que analisam.
      Depois vêm com a conversa de que o defesa não se devia ter adiantado nesse lance ou que a perda de bola no meio-campo, se não tivesse acontecido, teria originado uma situação de perigo contrária ao que sucedeu.
      Esses tempos foram de brasa. E, em brasa, as coisas sucedem-se quase sem controlo.

  9. João. says:

    De um lado (PS/PSD/CDS) dizem que o PCP queria uma ditadura revolucionária no país e de outro lado (esquerdistoides) dizem que o PCP não queria uma revolução em Portugal.

    Estes dois lados nunca irão mudar. Para os comunistas é perda de tempo. Sinceramente parece-me que o 5Dias serve acima de tudo a agenda dos esquerdistoides e é cada vez mais contraproducente manter comunistas em diálogo permanente com esta malta.

    É deixá-los entre eles. O diálogo contínuo com os comunistas só serve para os comunistas lhes darem credibilidade cujo retorno é chafurdisse política.

    Portanto, que se lixe o esquerdismo. Os comunistas já tem adversários políticos que cheguem, com muito poder de facto, com quem tem de lidar diariamente para ter ainda de andar a desmamar e a dar consistência este pessoal.

  10. Nuno Cardoso da Silva says:

    É verdade que o PCP teria sido destruido em 1975 se tivesse mexido uma palha que fosse. Porque, como aqui foi reconhecido, tinha perdido o apoio não só das forças que contavam (tropa) como da maioria da população. Muito bem. Mas então o que leva o PCP hoje a manter-se nas trincheiras ideológicas de sempre, com os seus 10% da população, sem a menor esperança de poder vencer a batalha dada a escassez das suas forças? É um hino ao passado? É teimosia? É incapacidade para adaptar o seu discurso e as suas propostas às realidades de hoje? É esperança de que o povo finalmente veja a luz? Ou é a reacção de quem, não conseguindo mudar o mundo à sua imagem, se refugia num pequeno mundo de faz-de-conta onde os seus mitos pareçam verdades? Longe de mim querer que o PCP claudique perante a burguesia e a oligarquia capitalista, mas não haverá outras maneiras de combater que não sejam a insistência em discursos e políticas tão ineficazes como inaceitáveis? Preserve-se a análise – muitas vezes brilhante – de Marx e Engels e Trotsky e Lenine e Bakunine relativamente ao capitalismo. Mas fuja-se das soluções que qualquer deles propôs, em épocas e em circunstâncias muito diferentes das nossas. O reacionarismo acéfalo das esquerdas vai levar à nossa destruição. A insistência em fórmulas e liturgias do passado alienarão cada vez mais as gerações novas. Não é que não haja jovens capazes de aderir a todo esse reacionarismo, mas esses jovens só o são na idade. Nas ideias são velhos, velhos, velhos… A mim, que sou cronologicamente velho, dá-me vontade de chorar.

  11. Luis Moreira says:

    O PCP é o único ( talvez com o da Grécia) partido comunista que se aguentou. Porque nunca teve responsabilidades governativas.Lembro que em 25 de Novembro se não fosse a declaração de Melo Antunes na RTP a travar o avanço das forças de direita o PCP teria voltado para a clandestinidade o que seria uma tragédia para a democracia.Muita gente dentro do PCP já tinha preparado o regresso. E o maior ódio de estimação das “esquerdas” sempre foi e é, o PCP. E têm muitas e boas razões para isso.

  12. Pingback: Ainda sobre o livro de Raquel Varela « Fala Ferreira

  13. Joao Querias says:

    LOL… Acho até engraçado, como se gastam “Rios” de tinta e prosaica cavaqueira, quando tudo isto se resume a um ponto muito simples, qual politica meus OTARIOS, uma bomba faz milagres pela DEMOCRACIA… !!!
    A politica do “OU TÀS QUIETINHO OU LEVAS NO FOCINHO!”… Ou seja, o triunfo dos “Cobardes!”
    Continuem… Estamos quase lá no buraco…!!!

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