E foi assim, há 38 anos

Mais um ano, já lá vão 38, mas quem assistiu ao frente-a-frente entre Soares e Cunhal, em 6 de Novembro de 1975, nunca o esquecerá. Durou 4 horas – uma eternidade impossível de repetir nas televisões apressadas que hoje temos, onde há sempre uma exigência publicitária ou um comentário futebolístico a interromper qualquer debate, por mais importante que este nos pareça – e o país parou para ver e ouvir.

«Goste-se» ou não de ambos, apenas de um deles (ou de nenhum…), muito do que passou desde então até hoje foi marcado, directa ou indirectamente, pela mão de ferro destas duas personagens.

Do debate dessa noite ficou para a história uma frase com que Cunhal respondeu a Soares quando este afirmou que o PC dava provas de querer transformar Portugal numa ditadura: «Olhe que não! Olhe que não!»

Texto com alguns excertos do que foi dito:

Adelino Gomes e José Pedro Castanheira, Os dias loucos do PREC, Expresso / Público, Lisboa, 2006, pp. 382-383. 

[Também aqui.]

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10 Responses to E foi assim, há 38 anos

  1. I.Tavares says:

    …e o povo português escolheu o IMPOSTOR.

  2. proletkult says:

    O canto do cisne da estratégia delineada por Álvaro Cunhal uma década antes.

    Na prática foi uma conversa de surdos. O Soares a reproduzir a lenga-lenga da burguesia, atribuindo ao PCP o que não lhe pertencia (como quando refere “as fábricas e os campos”) e agitando o espantalho, falso, da “ditadura comunista”. Do outro lado, o Cunhal a meter os pés pelas mãos, apelando à “democracia” e à aliança com o PS, mas recusando os resultados eleitorais, que eram claros. Por muito que o PCP dissesse que as eleições não deviam servir para formar governos, pois tinham sido para eleger uma assembleia constituinte, o argumento da direita era impossível de contornar. Só se lhe dava a volta virando por completo a estratégia, actuando no sentido de uma luta revolucionária e de uma ruptura total com os reaccionários. O PCP assim não quis. E depois deste debate enfiou-se num buraco até ao 25 de Novembro.

    • Khe Sanh says:

      Pois é. O PCP rompia todos os compromissos com a situação vigente e avançava sózinho para a luta que a vitória caia-lhe de bandeja na mão.

      Se até aí apenas queimavam os Centros de Trabalho, depois abriam a caça aos comunistas.

      Sou talvez muito nescio por isso não compreendo nada de lutas politicas.

      Camarada; faz o favor de explicares como é que achas que Cunhal e o PCP deviam ter atuado naquela altura para derrotar a contra revolução.

      • proletkult says:

        Para começar, o PC nunca deveria era ter feito esses “compromissos”. Ao fazê-los ficou refém deles. E com ele, ficou também refém a classe operária e todo o movimento revolucionário. Mas como, para Cunhal e seus pares, a ideia de “revolução” era (desde havia décadas) assente na aliança de classes, isso era pedir o impossível.

        A explicação que quer tem que a pedir ao PCP. Afinal, eu não passo de um “aventureiro esquerdista” e de um “Durão Barroso”, e suponho que o quer que dissesse fosse carimbado logo de “jogo da reacção” e outras patacoadas do género. O PCP é que esteve sempre certo, nunca se enganou e raramente teve dúvidas. A vitória da contra-revolução deve ter-se devido, concerteza, à traição dos próprios contra-revolucionários como o Soares que, malandros, apunhalaram os trabalhadores e deram o poder à burguesia.

      • De says:

        Aventureiro esquerdista?
        Mas quem disse tal?
        Durão Barroso?
        Mas quem disse tal?
        O PC sempre certo?
        Mas quem disse tal?

        Quanto À vitória da contra-revilução…sorry mas tal não cabe nos esquemáticos rascunhos da realidade esboçada por Proletkult mais os “punhais” e os “jogos da reacção e outras “patacoadas do género”
        Cito como é óbvio

        O “umbigo” é uma coisa lixada

      • proletkult says:

        No dia em que o caro De quiser debater com pés e cabeça, falamos. Agora, para as suas usuais respostas que nunca, mas nunca, acrescentaram nada, não tenho trocos.

      • De says:

        Apenas coloquei os pontos nos is para que ao menos os disparates não passassem entre os pingos da chuva.
        Mais nada

        A questão central deveria ser para “von” e para os seus pesadelos de supostos estados ditatoriais. Como se vê pelo panorama actual. Embora aí “von” tente disfarçar como casos de policia e ou escroques

        Já vimos pior.Mas essa de ter que responder quase que o mesmo aos conservadores e aos seus pares revolucionários burgueses ….não dá

    • De says:

      Uma grande volta anda às voltas Proletkult que se esfalfa em relação a Álvaro Cunhal, dedicando-lhe a sua limitada argumentação
      Há dias Proletkult, numa nova leitura dos processos revolucionários, defendia que os das ciências sociais “viam mais longe”.Proletkult nessa senda revisionista da luta de classes, agora repete o palavreado gerado há 38 anos pelos barrosos do tempo. Nem sequer já aquece nem arrefece, pelo que o buraco de Proletkult seja algo que me é perfeitamente secundário.

      Mas falando directamente sobre o post, a Joana tem razão quando afirma que este era um debate impossível nos dias de hoje.Quem o viu nunca mais se esqueceu dele.
      O “olhe que não,olhe que não ” ficou no discurso quotidiano e só por pudor não o usei para iniciar este meu pequeno comentário

  3. von says:

    O debate, de ideias, opiniões e opções. Um debate como já não há. Os personagens: um que se aproveitou do regime como poucos, e outro que tentou um regime de sentido único, onde quem discordasse ou tivesse outra opinião, era alvo a abater. Um grande debate não pode servir de branqueamento a quem foi um dos responsáveis do estado actual, e a quem queria que o estado actual fosse dictatorial. Já agora: os actuais, tanto os da coligação como os da oposição mais numerosa, são uns escroques e/ou casos de polícia.

  4. Pingback: Álvaro Cunhal, um reformista sério e um honesto contra-revolucionário | cinco dias

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