O salário mínimo é uma vergonha

Anda um vídeo a circular na Internet de um jovem que defende que é melhor o salário mínimo do que o desemprego, ou seja, a política do Governo de baixar drasticamente todos os salários. É o vídeo que defende a reprodução biológica – trabalhar exclusivamente para acordar no dia seguinte, comer, e ir trabalhar. O vídeo está-se a tornar viral, entre outras fontes pela página do José Manuel Fernandes, ex director do Jornal Público, e pela página do micro crédito do Millenum BCP. Estou a ver estes empreendedores todos amarrados ao crédito, a vender t-shirts chinesas e a pagar juros à Banca. Recebi entretanto algumas mensagens direi desagradáveis e algumas, muitas mais, de pessoas indignadas com o valor do salário mínimo e esta defesa da miséria que é feita em público e aplaudida. Confesso que podia não ter recebido nenhuma que diria ao Martim, e a todos os empreendedores exactamente o mesmo – o salário mínimo é uma vergonha e quem o defende, se sabe o que está a fazer, não tem dignidade moral.

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64 Responses to O salário mínimo é uma vergonha

  1. PCG says:

    é sim, senhora. sem margem para dúvidas.

  2. Xa2 says:

    Concordo.
    Estão a tentar defender o neo-esclavagismo através da eliminação de direitos laborais e de cidadania.
    Parabéns Raquel Varela pelo seu trabalho em defesa da verdade, do humanismo e dos trabalhadores.

  3. João says:

    * Cumprimentos

  4. Marta Santos says:

    Concordo quando diz que quem defende o salário mínimo não tem dignidade moral. A verdade é que nem salário mínimo devia existir, o mercado ajustar-se-ia automaticamente a isso e o desemprego diminuiria.

    • jbromao says:

      Isso é tudo muito bonito num mundo teórico em que as pessoas só se sujeitam ao trabalho que acham digno, porém quando há fome ou qualquer outra necessidade básica as pessoas sujeitam-se a tudo só para sobreviver.
      A existência de salário mínimo (que em Portugal mal chega para uma pessoa se sustentar, quanto mais uma família) distorce a distribuição de salários, mas é bem melhor do que a alternativa… É uma medida para promover a igualdade social.
      Quem diz que o salário mínimo nacional está na base da crise que vivemos gosta de ignorar a realidade quando argumenta, pois há muitos países com salários mínimos bem mais elevados que não sofrem dos nossos males. Se há um problema que Portugal tem é a desvalorização da sua mão-de-obra, o que torna o bens materiais caros para a população.

      • MaDi says:

        Eu deixo aqui uma lista de países em que não há salário mínimo imposto pelo governo: Áustria, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Islândia, Itália, Liechtenstein, Suiça, Noruega e Suécia. Portanto, não é um mundo teórico e curiosamente os países que não têm salário mínimo não vivem tão mal assim.

        A igualdade social é também um problema completamente acessório, o que é preciso é que toda a gente tenha uma vida digna, isso não tem que necessariamente significar que toda a gente ganhe o mesmo.

  5. António says:

    Eu não percebo tanta indignação… O rapaz criou uma marca, e paga a uma empresa para lhe produzir os produtos, o que tem ele a ver com quanto pagam aos funcionários dessa empresa? secalhar era melhor ninguem fazer nada porque à pessoas a ganhar o salário minimo…

    • ... says:

      A meu ver, É lógico que o rapaz não tem culpa. O inconveniente da Raquel Varela foi mesmo esse, interferir, na minha opinião, no momento errado. Pois a luta por um maior salário mínimo permitirá uma maior justiça social e maior dignidade para aqueles que apenas sobrevivem.

  6. Rita Antunes says:

    Se o Martim ou os papás se tivessem que sustentar com o salário mínimo, nunca poderia ser um jovem empreendedor…

  7. Espero sinceramente que o “empreendedor” Martim não se entale como o outro o Moniz.
    Quanto ao salário mínimo há quem diga que é melhor que estar no desemprego.
    Eu direi mais, que tal uma sopinha e o bilhete do comboio de casa trabalho, em vez do magro salário, sempre é melhor comer do que nada, mas pode ser ainda melhor, que tal arranjar um cantinho lá na fábrica, para passar a noite, olhem o que se poupava em transportes e tempo, e assim até nem havia desculpa para não trabalhar mais horas.

    • bela says:

      Ora é isso mesmo se calhar é a próxima etapa se continuarmos com estas emoções!!!!
      Gostei de ouvir Raquel Varela alias era a única que sabia do que falava, clara e objectiva…

  8. Martinho says:

    Muito bem Raquel! Aqui fica a pergunta: (i) quanto ganham os trabalhadores da fábrica que fez os brincos que usou no programa? (ii) caso sejam de um mineral (precioso ou não), quanto ganham os trabalhadores da fábrica que procedeu à sua extracção? Em que país foram fabricados? Em que país foi a extracção? Qual o salário mínimo e direitos sociais no país em causa? Repetir o exercício para a echarpe e demais vestuário (elegante, diga-se de passagem).
    Obrigado

    • Raquel Varela says:

      Caro Martinho
      Não estava lá a defender os benefícios do empreendedorismo nem do modelo económico em que vivemos. Estava a responder a quem o estava a fazer.
      Cump
      RV

      • PedroS says:

        Não estava “a defender os benefícios do empreendedorismo nem do modelo económico em que vivemos”, mas na verdade é esse modelo que lhe permite viver como vive, e não como em Cuba, Vietname, et al…

    • bela says:

      Se nexo nenhum! será que é assim tão difícil perceber o que estava em discussão? Ou será o Martinho um fabricante de brincos preocupado que lho descubram a careca?

  9. Automático for the people says:

    A pergunta que a Raquel devia ter feito era quanto é que estás a ganhar, Martim, com todo o trabalho que estás a ter? Quanto é que um puto de 16 anos, que está a fazer pela vida a vender tshirts que faz aos amigos ganha? E o que ganhas chega para pagares as tuas despesas ou todo o trabalho que tens é só para ajudar nas despesas dos teus pais?

    Porque, Raquel, o mais certo é o Martim ganhar pouquíssimo dinheiro com tudo o que faz. Porque é nisso que Portugal, infelizmente, é pródigo: paga-se o salário mínimo a quem executa e paga-se absolutamente nada a quem pensa, tem a ideia e torna a coisa viável. Ou então perde dinheiro. Onde está a exploração aqui? Nem todas as empresas são a PT nem todos os patrões o Belmiro. E você, com a pergunta que fez a um puto de 16 anos que não deve ganhar quase nada a vender as tshirts de que gosta aos amigos, demonstra uma e uma coisa só : não faz a menor ideia do que é ser um pequeno empresário num País como Portugal.

    • sergio says:

      Muito bem.

    • Se não consegues fazer dinheiro com as ideias que tens, dedica-te à pesca para não morreres de fome ou então arranja ideias decentes que realmente criem riqueza. O problema é que querem fazer dinheiro com ideias de merda, depois queixam-se que quem trabalha para por as suas ideias estapafúrdias em prática é que ganha muito. Lata, muita lata!

  10. Pingback: Uma mão cheia de argumentos contra a ignorância | cinco dias

  11. Carlos says:

    Eu também acho que o salário mínimo é uma vergonha. Devia ser abolido. É claro que, se fosse por simples decisão, todos quereríamos que toda a gente tivesse milionária. Mas temos de encarar a realidade e não uma fantasia ou ilusão. A pergunta a fazer é a seguinte: Será que um empreendedor pode, de alguma forma prejudicar alguém? A única coisa que ele pode fazer é propor algo, e apenas se essa proposta for melhor do que a alternativa em que o trabalhador se encontra, este irá aceitar. Se a proposta for rejeitada, é como se o empreendedor nunca tivesse aparecido em cena. Moral da história: os empreendedores só podem melhorar a condição das pessoas, nunca piorar.

  12. Santiago says:

    Este Martim enquadra-se no paradigma económico-social vigente. Se ele tivesse 40 anos, não se teria gerado a vaga de comoção acéfala em sua defesa.

  13. Victor Hugo Ramos says:

    Era bom saber quanto é que esse jovem ganha para fazer a divulgação de tal video, que devia ser retirado de imediato pelas autoridades. É que um video assim atenta contra o pudor público e é um insulto a quem trabalha,

    • Churchill says:

      Boa ideia Vitor, vamos eliminar tudo o que não está de acordo com a sua opinião.
      E depois aproveitamos e acabamos com as eleições que custam dinheiro e têm o mau principio de eleger pessoas dos outros partidos.
      Para finalizar marcamos uma manifestação contra a intolerência e falta de diálogo do ministro Gaspar e do chefe dele.
      .
      Feitas todas estas magnificas ações, assobiamos para o ar e fingimos que a democracia implica o respeito pelas opiniões dos outros.
      .
      .
      Como é possível ser tão imbecil?

  14. BGracio says:

    Cara Raquel,

    Clamar que o salário mínimo é uma vergonha parece-me um insulto a quem não tem alternativa a receber o salário mínimo.

    Falta de dignidade moral tem quem considera que viver (ou sobreviver) à custa de esquemas e subsídios é preferível a trabalhar, mesmo que por um salário mínimo. É óbvio que quem recebe um salário mínimo vive todos os meses a contar tostões e enfrenta enormes dificuldades para fazer face a quaisquer necessidades. Mas tem uma dignidade que não merece ser atacada por considerações como “o salário mínimo é uma vergonha”.

    O que a Raquel não consegue entender é que Portugal precisa de mais Martins. Se estes empreendedores tiverem ideias e as conseguirem executar, geram emprego. São portanto eles os responsáveis pela procura no mercado de trabalho. Creio que a Raquel entende o que acontece quando a procura aumenta.

    Ao rejeitarmos o Diabólico-Martim-Que-Compra-A-Empresas-Que-Pagam-O-Salário-Mínimo estamos a dizer que mais vale não criar emprego, estamos a dizer que preferimos ver os trabalhadores dos fornecedores do Martim no desemprego. O paradoxo é que isto resulta exactamente numa diminuição dos salários.

    • Martim da Vila says:

      Ora, bem dito!

    • ... says:

      Como é que esse paradigma funciona quando temos uma classe empresarial, nem todos felizmente, que está interessada em aumentar consideravelmente os seus lucros explorando os seus trabalhadores pagando o mínimo e trabalhando sempre mais (fora d’horas e afins).

      A verdade é que, e agarrando a sua argumentação mas revertendo-a à minha narrativa, se houver maiores salários, maior será o consumo nacional o que resultará num maior volume de vendas dos “empreendedores” nacionais e assim se cria maior dignidade e condições satisfaçam humana.

      A exploração laboral e baixos salários apenas permite enriquecer uma minoria. Uma das soluções passa por rejeitar o salário mínimo … pois um salário baixo não alimenta o comércio e nenhuma classe social beneficia com a ausência de comércio .

      • BGracio says:

        Caro …,

        Discordo das suas conclusões. Aumentar os salários por decreto, apenas vai resultar em inflação. Em valores reais não constitui um estímulo à economia. Isto numa economia fechada. Numa economia aberta, como a nossa, isso resulta em diminuição da capacidade competitiva e maior dificuldade para as empresas que dependem das exportações, as quais são essenciais para o crescimento da economia.

        Há muito tempo que o nosso problema não é um baixo nível de procura total da economia. A dificuldade está na capacidade produtiva.

  15. Pingback: A falta de noção do ridículo | Sentidos Distintos

  16. Ana says:

    Eu penso que a pergunta que foi feita ia mais além daquilo que foi compreendido e a resposta foi de facto demonstrativa do pensamento português, mais vale pouco que nenhum, se eu não quiser há milhares para o meu lugar, por isso “como e calo”! O que eu entendi da pergunta da Drª Raquel , era no fundo para perceber se ele tinha noção de justiça salarial, ou seja se um salário minimo era justo pelo trabalho efectuado, num país onde o custo de vida está equiparado a outros países da UE onde o custo de vida é quase o mesmo mas o salário minimo é mais do dobro do nosso! A realidade do nosso país é de casais em qua ambos ganham apenas o salário minimo na melhor das hipoteses porque na pior só há um salário minino por lar, onde só a renda de casa ronda os 400€ (pelo menos na cidade onde vivo, encontrar uma casa de 350€ de renda é um achado). Passa a ser uma questão social e moral! Na minha opinião é imoral e a resposta desse miúdo assuta-me, porque se ele pensa assim aos 16 anos quando chegar aos 30 ainda o vamos dizer: “Antes um prato de sopa que nada!”

    • MaDi says:

      Ana,
      As pessoas que ganham o salário mínimo agora não estão condenadas a ganhar o salário mínimo para sempre. Com a experiência, com a evolução nas carreiras, etc, é possível elas melhorarem de vida com o tempo. Se me disser que isso não acontece, podemos discutir as razões.
      Num país em que a economia seja pujante, há mais emprego do que mão de obra. Nesse caso, os salários necessariamente aumentam (mesmo que não exista salário mínimo), porque se um empregador pagar muito pouco, pode ir-se trabalhar para outro. Em Portugal, vive-se o contrário: há mais mão de obra do que emprego. A única maneira de se sair desta situação é haver pessoas que empreendam, como o Martim. E quem não vê isto, está só a reclamar sem trazer alguma solução efectiva para o país.
      Agora daquilo que viu do Martim acha mesmo que ele virá dizer que uma sopa é suficiente?

    • Martim da Vila says:

      Dividam apartamentos, tal como eu fiz nos EUA, sim não foi na China Comunista a dividir apartamento (espeluncas) com mais 24 amigos. Não esperei por subsidios ou altos salários, fui paulatinamente conquistando o meu espaço, mas peço desculpa pelo meu exemplo, isso foi num país capitalista e que tem de ser exorcisado…

  17. O Martim fez-me lembrar um filme que vi há muito tempo, “A Escolha de Sofia”, em que a protagonista foi obrigada por um oficial nazi a escolher qual das filhas iria para um campo de extermínio e qual se salvaria – sob pena de irem as duas para o campo de extermínio.

    A escolha entre o desemprego e um salário de miséria é uma escolha cruel. E não é uma escolha livre, porque é imposta depois de todas as outras alternativas terem sido sistematicamente, friamente eliminadas (o oficial nazi poderia facilmente ter feito com que ambas as filhas de Sofia se salvassem).

    O Martim, na sua inocência, limitou-se a reproduzir uma das “evidências” que o poder neoliberal tem conseguido introduzir no senso comum. E quero crer que o aplauso que recebeu tenha sido igualmente inocente. A “evidência” não deixa por isso de ser uma mentira obscena. Veiculada por gente como o José Manuel Fernandes, que é tudo menos inocente.

  18. joão says:

    Ó dona Raquel, você então, com as suas teses sobre o PCP e a sustentabilidade do estado social e o catano gera realmente muitos postos de trabalho e tem muita moral para criticar um rapaz que, ao contrário da maioria, não se limitou a pedir o smartphone aos paizinhos. Ah, pronto, o criminoso trabalha com fábricas que só pagam o salário mínimo, vamos lá enforcar o sacana do burguês.

  19. Carlos Pratas says:

    A Raquel deu a resposta que o jovem e diligente empreendedor merecia. Este projecto de fazer de cada português um empreendedor é uma descarada demagogia, uma forma de racismo social e um apelo ao “safa-te tu e deixas lá os outros “. Daqui, desta crise, não saíremos se não formos todos os que fazem parte do bloco social anticapitalista que pode protagonizar a mudança política radical que se torna cada vez mais urgente. Precisamos de mais vozes como a da Raquel. Carlos Pratas

  20. António Martins says:

    Boa noite Dra. Raquel Varela.
    Até à cerca de meia hora era um dos seus seguidores e admiradores como amigo do Facebook.
    Enviei-lhe uma mensagem por engano, que certamente se terá apercebido que não era para a Dra. Raquel. Pelo facto peço-lhe imensa desculpa.
    Se for sua vontade, teria muito gosto em continuar a fazer parte da sua roda de amigos.
    Atenciosamente,
    António Martins

  21. O que choca mais nem foi a resposta do adolescente, foram os aplausos de metade da plateia. Retira a esperança no pais, a populaça do futebol, de fátima, do “empreendorismo”, do centrão, nunca vai ter capacidade cognitiva para além da emoção básica instantânea do lugar comum que lhes é injectado pelas tvs em doses massivas. Desisto do país dos “burroçados”, mesmo com pessoas fenomenais como a Raquel e os outros dois companheiros de bancada ontem. Os +50% de homo neanderthalensis habitantes deste rectângulo à beira mar irão inconscientemente sempre travar os esforços na direcção do progresso social. Pérolas a porcos.

  22. Miguel says:

    Boa reposta Raquel. Terás sempre o meu apoio. Estás a ser atacada em todas as frentes, mesmo de “alguns” da esquerda. Mas resiste, pois precisamos de gente como tu.

    Um abraço

  23. sergio says:

    sois tão fraquinhos meu deus.. olha eu n cria dizer isto, mas n consigo. Depois de acompanhar estes vossos posts e comentários sobre este assunto, digo-vos.
    O salazar é que tinha razão em manter determimadas mentes mesquinhas e doentes de bico calado. Porque o vosso probrema é crónico.
    Vejam bem se o miúdo pelo que disse tem alguma coisa que se lhe aponte de mal! AMORMAIS VOCES!

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  25. João Dias says:

    Se bem me lembro o tema era “Mudar o país ou mudar de país?” Se efectivamente aquilo que o Martim disse ainda tem muito, ou pelo menos a maioria do, público então a resposta é…mudar de país (ler com sarcasmo).
    Portugal junta o inútil ao desagradável: capitalismo atrasado. Parece querer fingir que não foi o Estado Social o ombro amigo para expansão do capitalismo, lucro/renda privado e protecção social paga pelo trabalho (as taxas sobre o capital são irrisórias). No desenrolar da história conta tanto “o cão que obedece quanto o dono que se aproveita”.

    Para os mais distraídos que saem em favor dos empreendedores que “criam” emprego mesmo que sejam precários, mal pagos etc, convém lembrar que até já há capitalistas que não vendem essa ladainha (https://www.youtube.com/watch?v=iIhOXCgSunc). Mesmo numa análise com todos os preconceitos errados de capitalistas, não é intelectualmente defensável dizer que os criadores de emprego são os empreendedores. Marx desmente isso com uma limpeza e lógica irritante [porque óbvia], mas também um pensamento um pouco mais aprofundado sobre o assunto leva a concluir o ridículo de pôr o “ónus da criação” na pessoa do proprietário, seja dos meios da produção seja da ideia/conceito/patente.

    • Reise says:

      João, não queres explicar o que o Marx disse tão claramente? É que eu (e muita gente) nunca meu Marx.
      Já agora, o Marxismo era tão límpido e lógico que todos os países ainda o seguem!
      “Democracy is the worst form of government, except for all those other forms that have been tried from time to time.”

      • João Dias says:

        Sim, explico.

        Mas antes demais, na minha concepção de Marxismo (que penso não fugir muito aquilo que era a ideia do autor) nem sequer chegou a haver verdadeiros governos Marxistas ainda que eles dissessem que essa era a sua inspiração. A teoria heliocêntrica vingou quase 300 anos depois da morte do autor (Marx morreu à 130 anos), a história vai-se escrevendo e é dinâmica (esta também é um ideia Marxista e até poderá ser subscrita por muitos anti-Marxistas). Mas não se assuste, que o Marxismo também pode nunca ver a luz do dia…ou pode, fica em aberto.

        Eu acho que uma ideia Marxista que desmitifica os “criadores de emprego” é a do Fetichismo da Mercadoria, onde ele explora as verdadeiras relações sociais inerentes ao processo de troca de mercadorias. Ou seja, não existem “criadores de emprego”, existem sim necessidades sociais que são satisfeitas num processo social colectivo (mas oculto) de trabalho individualizado de produção. Como essa relação social só se manifesta na troca de mercadorias, o homem parece iludir-se que de facto é essa a verdadeira relação existente, ou seja uma relação entre coisas e não entre pessoas que fazem parte de um todo que é a distribuição social do trabalho (socialmente necessário acrescente-se).

        Contextualizando: se na realidade o trabalho serve para satisfazer necessidades sociais concretas, então não é na realidade a ideia empreendedora que cria empregos mas sim a sua necessidade ou (em termos mais capitalistas) a sua aceitação social. Neste caso, a roupa é uma necessidade social, o Martim aproveitou uma época de baixos salários para vender um produto com um estilo apelativo aos mais jovens. A necessidade social de comprar roupa já existia, o miúdo teve olho para perceber como caprichar nessa necessidade social e criar uma oportunidade de negócio para si, o que no entanto não quer dizer que ele seja o criador dessa necessidade e por conseguinte que esteja nele o “ónus” da criação de emprego.

        Também se pensarmos em apenas algumas das fases da mercadoria percebemos como o Martim precisa de quem compre o seu produto, quem compra o seu produto precisa de poder de compra, esse poder compra vem, na esmagadora maioria dos casos, da troca de trabalho por salário… Há toda uma relação de interdependência que torna a formulação “criadores de emprego” muito pouco sustentável.

        P.S. O Marxismo não é algo que se oponha à democracia (daí a frase que defende a democracia estar a combater os moinhos de D. Quixote – inimigos imaginários), mas isso só se percebe lendo o que Marx escreveu e não aquilo que outros dizem que ele escreveu (admito que até eu que simpatizo com as ideias Marxistas possa a estar não totalmente fiel ao seu legado, imagine-se quem o detesta…)

      • João Machado says:

        Amigo Reise,

        Caricata a forma como se esconde atrás de uma frase feita, ainda mais se atentarmos no facto que espelha a sua clara intenção de colocar o comunismo/marxismo como antítese da democracia. A sua intervenção é, na minha opinião, reveladora de duas coisas: como não “leu” Marx, e porventura nunca se terá dado ao trabalho de sequer o tentar fazer, acha-se no direito de questionar; além disso, acredita também que por um país seguir ou deixar de seguir um determinado modelo político, por si só atesta a validade desse mesmo modelo.

        Vou lançar-lhe um desafio: leia Marx. Acredite em mim, não é assim tão transcendente. Até você conseguirá entender. Em relação à validade do socialismo científico de Marx, outro desafio (mas olhe que este obriga a puxar pela cabeça) – olhe para o panorama mundial, onde a esmagadora maioria dos países pratica e vive de e para o capitalismo, e diga-me depois qual o resultado de “seguir” a tendência.

        Feita a introdução, voltando à “vaca fria” do tópico, o Martim não tem culpa do salário mínimo. Tem, mesmo sem o saber, culpa de perpetuar a exploração do homem pelo homem. Cá ou na China – vai dar ao mesmo. A frase “salário mínimo é melhor que estar desempregado” é infeliz para quem se apercebe da realidade e tem noção do que implica a afirmação. O Martim proferiu-a porque a sociedade lha transmitiu. Sem querer ferir susceptibilidades, ou sequer atacar o Martim, a frase foi “papagaiada”. É o visível reflexo do que se ensina (ou deixa de ensinar) nas escolas e do que todos nós, enquanto sociedade permitimos que perpetue. Reconheço-lhe valor em pensar “fora da caixa” para resolver um problema seu, no entanto, entristece-me a ideia de ver um jovem de 16 anos que conseguiu transcender-se neste campo e por ventura não se transcenderá quando chegar a idade de decidir e pensar politicamente.

        Em relação à Dr.ª Raquel Varela, a retórica foi absolutamente perfeita, mas tal como já foi aqui dito também, pecou por tornar o Martim o alvo. Ele não tem culpa de pensar assim, nem tem sequer responsabilidade para lhe podermos pedir mais.

        Como foi dito algures aqui em baixo (ou em cima) – a conversa do Martim e da Dr.ª Raquel não teria tido um décimo da importância se o Martim não tivesse 16 anos e se a Sr.ª Raquel Varela não fosse doutorada. Isto, por si só é revelador que o “povinho” gosta da encenação pública do “David contra Golias”. Pena é que quando chega a hora da verdade, os “Davides” ficam todos em casa, enquanto o “Golias” se empanturra com a sua resignação.

        Tenho dito.

  26. mandriola says:

    O mais grave de tudo isso, não é o facto de o “puto” ter a mania que é empreendedor (leia-se capitalista), mas sim, saber quem está por trás de tudo isso. Quem conhece, minimamente, a indústria têxtil, sabe que, nem a “bater punho”, por mais “empreendedor” que se seja, por mais giras que sejam as miúdas, se consegue lá chegar.
    Não conheço nenhuma empresa, por mais pequena que seja, que se preste a confeccionar meia dúzia de “t-shirt’s”. Só quem não sabe o que é a produção em série acredita nisso. Aguardo que se descubra que meteu esse falso “batedor de punho” nessa embrulhada.

    • Custodio says:

      Meu amigo, o problema dos comunistas e da esquerda é que não acreditam que as pessoas tenham qualquer capacidade individual para resolver os problemas e prosperar. Está aqui a empresa que lhes faz as t-shirts: http://www.maudlinclothing.com/blog/o-caso-do-martim-visto-por-dentro

      E já agora, como estou sempre pronto para elucidar um comunista, até há sites onde você pode mandar fazer uma t-shirt, impressa com o que você quiser. LOL

      • João Machado says:

        Olhe meu “amigo” Custódio, o seu problema é que tem medo do bicho papão do comunismo! Mal viu a palavra “capitalismo” teve logo que mandar a tacadinha, não foi?

        Acho alguma piada que o meu “amigo” Custódio diga que são os “comunistas” e a “esquerda” que não acreditam na capacidade individual, quando o que vemos diariamente é a direita a castrar a capacidade de cada um de nós! Experimente obter financiamento para tirar uma empresa do chão (não estamos a falar da brincadeira de fim de semana do Martim, por muito valor que ela tenha). Experimente você “prosperar” com um salário mínimo e com um vínculo laboral precário. Experimente arranjar quem lhe compre o que você vende quando já nem para comer sobra dinheiro.

        Ficou-lhe mal a expressão “estou sempre pronto para elucidar um comunista”. Explico-lhe porquê: que valor daria ao Sr. Passos Coelho ou ao Sr. Vítor Gaspar para lhe ensinarem a gerir as suas finanças mensais? Nenhum, provavelmente. É por esse mesmo motivo que esses tiques de chico-espertismo, patentes na sua infeliz expressão, acabaram por lhe retirar toda a credibilidade no valor que poderia ter acrescentado ao debate. E ainda está para vir o dia em que um chico-esperto me elucida a mim, comunista, sobre seja o que for. Um resto de bom dia.

    • JV says:

      o/a mandriola demonstra um desconhecimento absurdo da realidade do sector têxtil. saiba que se fazem produções à unidade. unidade = 1, só para esclarecer

  27. Martim da Vila says:

    Como melhorar então? Quais as alternativas? Como minimizar o peso do Estado (visando a consequente redução de impostos)? Obrigado e um bom dia.

  28. Martim da Vila says:

    Raquel, deixo uma pequena orientação para o que poderia ter sido uma crítica construtiva.
    “Martim, antes de mais parabéns por teres mostrado que ainda podemos ter poder de iniciativa neste país. Peço-te que, caso tenhas o sucesso que te desejo, possas com o aumento das vendas e a consolidação da marca, poder sensibilizar os fabricantes para aumentarem as condições salariais e sociais dos seus empregados, já que atualmente o salário mínimo é, sem margem para dúvidas, baixo. Tendo essa capacidade poderás dizer, só trabalham para mim se proporcionarem as seguintes condições (blá, blá), pois não queres ser como uma Zara, C&A, Zippy e tantas outras (onde, eu Raquel, nunca comprei nada), que vendem os produtos com margens brutais e ainda exploram os trabalhadores em países como a Índia, Coreia do Norte e China. Obrigado Martim por esta lufada de ar fresco.”

  29. Ska says:

    Mais vergonha ainda acho que é o pensamento de “pagam-me 75 para ficar em casa a encher chouriços, ou 100 se for trabalhar? Só se for burro é que vou trabalhar, fico no subsídio que isso é que é bom”.

  30. Rui says:

    O que é que uma coisa tem a ver com outra? Lá por o salário mínimo ser indigno, que é, o que é que o miúdo tem a ver com isso? É ele o culpado só por ter tido uma ideia? Será ele capaz de resolver o problema? O Martim está certo e não há nada criticável nele (nem o facto de dizer que é melhor o salário mínimo do que o desemprego. Onde é que isto pode ser confundido com a “defesa da política do Governo de baixar drasticamente todos os salários”? Que raciocínio infeliz, Raquel…). E a Raquel também está certa em atacar o valor do salário mínimo, mas não tem nada que apontar o dedo ao miúdo. Foi aí – e só aí – que a Raquel errou: querer centrar no miúdo um problema da sociedade em que vivemos.

  31. Pingback: O dignómetro diz “escravatura” | BLASFÉMIAS

  32. miguel quntas says:

    Porque não vª exmos criarem empresas e praticarem as politicas de emprego que protagonizam.
    Seria um exemplo prático brilhante para a defesa destes ideais.
    Já agora poderiam arriscar o que é vosso naquilo que acreditam e não obrigar os outros a arriscar o que é deles de acordo com os vossos ideais.

  33. José Alves says:

    Será que o Martin também passa faturas e paga o IRC?

  34. Orlando says:

    Apesar de muitas vezes não concordar consigo, desta vez tenho mesmo de dizer que tem muita razão no que disse e no que escreveu aqui. Tenho um pouco de pena do Martin, devido à sua ingenuidade e ao aproveitamento de que está a ser vitima. Solidário consigo Raquel.

  35. jorge manuel says:

    Senhora doutora vamos lá acabar então com o salário mínimo e propor o salário máximo em contraposição ao salário mínimo a partir do qual todos deveriamos usufruir. Qual deveria então ser o salário máximo proposto pela senhora doutora ? 1000 € ? 2000 € ? 3000€ ….diga-me lá que eu vou já a correr trabalhar para a sua empresa .

    • carlos says:

      O salário não se decide assim por palpite, por “achismo” militante ou não. Mas poderiam ser largamente melhores, era só redistribuir a mais-valia pelos que de facto produzem riqueza

    • E que tal fazer como na Suíça, onde está em curso um referendo para que em nenhuma empresa o salário mais alto possa ser mais que 12 vezes o salário mais baixo? Em Portugal, há casos em que anda pelas 1.500 vezes…

  36. cidadão says:

    O Salário mínimo é de facto uma vergonha se comparado com paíes como a Grécia, que está no estado em que sabemos,. No entanto, vergonha maior é haver gente que recebe bem mais do que aquilo que produz e no caso do salário mínimo, há gente nem isso merece receber.

  37. João Morais says:

    O Martim demonstrou uma chocante falta de sensibilidade para a questão da exploração dos trabalhadores que são pagos com salários indignos. No entanto, sem desculpabilizar a insensibilidade do Martim, a forma inquisitória de transmitir a mensagem não foi a mais adequada. O rapaz foi interrogado como se fosse um exemplo de um explorador capitalista de mão-de-obra barata por vender camisolas pela internet, o que foi desproporcionado. Quando um assunto como este é debatido recorrendo à provocação pessoalizada, corre-se o risco de ouvir respostas demagógicas que a direita adora. E tudo podia ter descambado ainda mais caso o Martim se lembrasse de perguntar à Raquel Varela se sabia onde tinha sido feita a roupa dela.
    Em última análise, são os consumidores que alimentam as empresas que lucram pagando aos trabalhadores salários miseráveis e dificilmente se pode sensibilizar as pessoas para o problema “disparando” indiscriminadamente para tudo e todos.
    Já é habitual a Raquel Varela adoptar este estilo político do tipo “serial killer”, disparando sem olhar a quem. E dos seus momentos mais infelizes foi quando decidiu apelidar quem defende os direitos dos animais de nazis, usando um ideário de direita bolorenta fundamentado na doutrina bíblica do domínio todo-poderoso do homem sobre os seres inferiores (animais) que não merecem um pingo da sua preocupação. Foi um insulto e um total desrespeito pelas muitas pessoas de esquerda que lutam pelo ideal humanista da vivência equilibrada do homem e dos seres vivos com quem partilha o planeta.
    A direita agradece a existência destas pessoas empenhadas nos fratricídios de esquerda. Se calhar não é por acaso que os tendenciosos meios de comunicação trazem à ribalta estas pessoas.

  38. Pingback: cinco dias

  39. lisandro says:

    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!
    Que ridículo !!O governo arrecada mais de 2 trilhões em impostos(dividido pelos 200 milhões de habitantes,dá mais de R$ 10.000 por ano para cada ser desse pais, seja ele o Eike Batista,você ou até mesmo um mendigo…)e tem gente que se contenta com salário mínimo…ou até pior,com bolsa família por exemplo.

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